quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Uma Nova Abordagem: "Aprendizagem e Ensino por Projetos

Uma Nova Abordagem: "Aprendizagem e Ensino por Projetos"

Autor: Zilda Fajoses Gonçalves

Durante o relato de observação de uma aula de Oficina da escola Caic-Núbia, onde os alunos utilizavam as tecnologias na sala de informática para aquisição de conhecimentos relacionados à Língua Espanhola, alguns alunos, simplesmente acessaram o site da Turma da Mônica do Maurício de Souza e começaram a ler histórias em espanhol.
É interessante notar que esse "desvio" foi ocasionado por informações adquiridas pelos alunos num outro projeto que estava sendo aplicado na escola: "Quadrinhos – Aprender e Ensinar Brincando", onde os alunos estavam aprendendo a utilizar a "Máquina de Quadrinhos" da Turma da Mônica.
Quando do "desvio" do aluno para as histórias em quadrinhos em espanhol - de certa forma com a concordância tácita da professora, que longe de repreendê-los, os ajudou na tradução e interpretação - ficou demonstrado que uma atividade centrada na "Aprendizagem por projetos" pode, em alguns casos, facilmente limitar uma atividade centrada no "Ensino por projetos", uma vez que o aluno deixou de ser um sujeito passivo para se tornar ativo na decisão de como se daria seu aprendizado durante a aula, com o consentimento e incentivo da própria professora, que os ajudou inclusive no uso dos aspectos técnicos.
Essa foi uma forma de realizar novas descobertas a partir do que já estavam "trabalhando", de "ressignificar" o que já sabiam/tinham aprendido na própria aula correlacionando-as ao seu cotidiano de Quadrinhos lidos no Brasil.
Como já foi observado antes:
"Novos projetos que busquem utilizar as TIC´s (Tecnologias de Informação e Comunicação) na escola de forma eficiente devem privilegiar o aspecto pedagógico, capacitar seus professores e obter uma boa infraestrutura física em local adequado para que se tenha êxito. / Se apenas um desses aspectos falhar, corre-se o risco de que tudo falhe." (GONÇALVES, Zilda C. V. Fajoses. - "Diretrizes para o trabalho pedagógico das TIC: um acordo coletivo", 2010, s/p.)
E felizmente, nenhum desses aspectos falharam na aula em questão.
Além disso,
"As TIC´s são apenas um meio para se atingir o principal objetivo: construção de conhecimento. São apenas uma forma melhor de aplicação de técnicas e métodos para, pedagogicamente, transformar informação em conhecimento. / A internet é o maior repositório de informação atualmente. Todo tipo de informação. O aluno precisa ser "conduzido" pelo professor nesse "mar" não navegado; precisa ser ajudado com as técnicas que o ajudem a buscar e discernir as informações oferecidas; precisa aprender a dar-lhes significado e contextualizá-las." (...) "Hoje se pode ter qualquer informação ao alcance dos dedos. Elas são vastas, completas, visuais, auditivas e interessantes. Mas precisamos distinguir o que é importante, real e verdadeiro, do que não é. Esse é um dos aspectos que não pode ser ignorado pelos responsáveis pedagógicos de um estabelecimento de ensino," (...) " E o docente não precisa ter medo de mostrar que está aprendendo junto com seus alunos – isso lhes ensinaria um novo conceito de respeito e humildade de um professor que deixou de ser "onisciente" para se tornar aquele que "aprende ensinando", ressignificando toda a relação professor-aluno e ensino-aprendizagem: inovando." (Id. Ibid.)
Alguns aspectos citados abaixo, e acontecidos na aula observada, corroboram minha conclusão sobre o fato de determinadas atividades centradas na "Aprendizagem por projetos" estarem no limiar de uma atividade centrada no "Ensino por projetos" e poderem ser utilizadas/adaptadas pelos professores, principalmente quando as TIC´s estiverem em questão.
É significativo perceber que essa situação ocorre várias vezes e de forma não prevista no projeto. Basta que o professor tenha sensibilidade para "adaptar-se" à situação, os tipos de atividades – e então as abordagens - podem mudar e mesclar-se, ainda que isso não ocorra tendo como base o projeto em si, mas apenas na aplicação das atividades práticas.
A problematização é dialógica quando o conteúdo programático não é "engessado" dentro de um projeto, mas sofre "alterações/adaptações" para que se possa devolver conhecimento no lugar de informação.
"Quanto à necessidade de problematizar para conhecer, Freire (2000, p.98) esclarece: ‘Para o educador-educando, dialógico, problematizador, o conteúdo programático da educação não é uma doação ou uma imposição – um conjunto de informes a ser depositado nos educandos – mas, a devolução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo, daqueles elementos que este lhe entregou de forma inestruturada.' (Freire, 2000, p.98, apud, BATISTA, Deniele Pereira - Técnicas e Métodos de Uso das TIC em Sala de Aula. V.1, 1ª Ed, Juiz de Fora:UFJF, 2009)
Diante disso, observa-se ainda que:
"Os conteúdos programáticos são definidos a partir de um esforço constante do educador em desvelar aspectos da realidade dos alunos para traçar as unidades de aprendizado. Na perspectiva freireana, por exemplo, o ato do conhecimento é aquele em que o educando se coloca como sujeito atuante, por meio do diálogo com o educador. Este, ao trabalhar com situações desafiadoras que sejam existenciais para os alunos, estaria conduzindo um processo ativo, dialogal e crítico." (...) "Por outro lado, também não se deseja que o conhecimento escolar se detenha basicamente na transmissão de conteúdos programáticos sem considerar o universo do estudante. Digamos que uma concepção mais desejável seria a integração dessas duas formas, para que as questões advindas do cotidiano do aluno se inter-relacionem com os conteúdos das disciplinas e vice-versa, resultando em um conhecimento mais global." (Id,grifo nosso)
Baseando-me no material disponibilizado, verificamos que o que aconteceu foi que:
"os conteúdos deixam de ser um fim e passam a ser meios para a formação e a interação com a realidade, envolvendo dinamismo e espírito crítico, tornando a aprendizagem significativa". (PETITTO, 2003, p.63, apud Id,Ib)."
"Compreendemos, então, que a prioridade de trabalhos dessa natureza centra-se, principalmente, no caráter significativo da aprendizagem, levando o aluno a passar para a realidade aquilo que aprende na escola e vice-versa.." (Id. Ibid. – grifos nossos).
Podemos perceber então que a "Aprendizagem por Projetos" pode ter atividades com características inequívocas do "Ensino por projetos", ou seja, podemos concluir que há projetos que em sua aplicação prática, podem vir a mesclar essas duas abordagens, fazendo com que essas não sejam classificações absolutas.
"...o planejamento de um projeto (na perspectiva da aprendizagem por projeto) envolve algumas etapas que devem ser pensadas cuidadosamente pelo professor, sem perder de vista que o aluno deve ocupar lugar de destaque. A participação e o envolvimento do aluno durante o processo de elaboração de projetos passam a exigir dele, de maneira natural, uma postura de investigado, solicitando-lhe tomar decisões, fazer descobertas, ser criativo, organizado e estabelecer parcerias com o grupo e com o professor." (id, ibid)
Hernandes, e principalmente as classificações de Léa Fagundes, além das "certezas provisórias" que geram "dúvidas temporárias" apresentados pela eminente Batista (BATISTA, 2009, p.71 e 75), demonstram isso com clareza.
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Fonte: BATISTA, 2009, p.71 e 75
A atitude dos alunos em resposta à provocação de aprendizado da professora, mesmo se fosse considerada uma situação isolada, demonstra que várias dessas situações educacionais cotidianas e reais fazem com que fiquem mais próximas da "Aprendizagem por projeto", onde a curiosidade e as novas descobertas geraram novas questões dentro do conteúdo, enquanto o aluno torna-se agente. Mesmo quando a abordagem inicial é de um "Ensino por projeto", quando a autoria inicial pertenceu ao corpo docente escolar, ela pode ser "emprestada" ao aluno, que "assume" os aspectos da "Aprendizagem por projetos".
Os sujeitos trocam de papéis e os paradigmas se mesclam, assim como as decisões. Há ressignificação da aprendizagem.
Após essas considerações, não se poderia falar que além das abordagens conhecidas de "Aprendizagem por Projetos" e de "Ensino por Projetos" haveria uma terceira: "Aprendizagem e Ensino por Projetos"?
Eu acredito que sim.
Referências:
BATISTA, Deniele Pereira. Técnicas e Métodos de Uso das TIC em Sala de Aula. JF: NEAD/UFJF, 2009?. Apostila apresentada no curso de Especialização em Tecnologia da Informação e Comunicação para o Ensino Fundamental, Unidade III, passim.
GONÇALVES, Zilda C. V. Fajoses. - "Diretrizes para o trabalho pedagógico das TIC: um acordo coletivo", Texto para a Disciplina "Técnicas e Métodos de Uso das TIC em Sala de Aula" Plataforma Moodle, Curso de Especialização em Tecnologia da Informação e Comunicação para o Ensino Fundamental 2010, s/p.
Anexo I
Tutor (a): Sueli Rodrigues
Polo: Juiz de Fora
Aluno (a): Zilda Cristina Ventura Fajoses Gonçalves
Atividade 9: "Relatório de Observação de uma Aula"
Relato de Observação de uma Aula de Espanhol no laboratório de Informática
Esse é o relato da observação de uma aula de Espanhol com o uso do Computador e Internet da professora Adriana Costa Henriques para alunos do Ensino Fundamental matriculados no Projeto de Oficinas (extraturno). Esta aula se deu no dia 30 de setembro de 2010 no laboratório de Informática da Escola Municipal Núbia Pereira Magalhães – CAIC.
Os alunos matriculados nesse projeto são oriundos da comunidade e da própria escola e iniciaram o curso no segundo semestre do corrente ano. Os projetos do Caic são sempre abertos aos alunos da própria escola e à comunidade, principalmente aos alunos da E.E. Prof. José Saint´Clair. O CAIC-Núbia, como a escola é conhecida, desenvolve diversos projetos concomitantes ao Ensino Fundamental regular, aplicados nas diversas oficinas disponíveis como: Dança, Xadrez, Espanhol, Informática, Vôlei, Handebol, Flauta, Violão, Futsal, Convivência (3ª idade), Teatro, Coral, dentre outros, e direcionados principalmente aos alunos da própria escola, apesar de abertos à comunidade.
A professora Adriana não sabia de antemão que teria sua aula observada e quando estava pegando as chaves do laboratório de Informática da escola, gentilmente aquiesceu à solicitação feita por mim para fazê-lo, quando expliquei o que precisava fazer e qual era o objetivo.
Ela se dirigiu ao laboratório de informática antes do horário marcado para as aulas, ligou todos os computadores e os colocou num site com um jornal em espanhol antes da chegada dos alunos. Quando eles chegaram, ela explicou que a aula seria desenvolvida em três etapas e que a primeira era o jornal que estava na tela – um jornal muito famoso na Espanha o "El Mundo" (www.elmundo.es) – e que os alunos tentariam fazer uma "leitura instrumental", ou seja, deveriam tentar identificar as palavras na tela e, por associações, tentar entender qual era a "mensagem" transmitida.
Os alunos fizeram diversos questionamentos durante a leitura, principalmente de tradução das palavras e comentaram o que estavam lendo.
Na segunda etapa, a professora deu a eles um endereço de um Chat (www.terra.es/chat) em espanhol para que eles pudessem entrar e conversar com quem estivesse online no momento. Os alunos continuaram com as perguntas e observei que usaram muito "portunhol" e brincadeiras em sua interação.
Iniciando a terceira etapa, foi solicitado aos alunos que entrassem num site de jogos educacionais de um Instituto Brasileiro de Língua Estrangeira (www.institutoespanhol.pt). Os alunos pareceram se divertir bastante enquanto tentavam adivinhar o que estava escrito na tela no jogo da "Forca" e "Adivinhas", além de outros.
Um aspecto interessante foi eles terem se "desviado" do planejamento inicial da aula para ler quadrinhos em espanhol no site Máquina de Quadrinhos da Turma da Mônica, até mesmo incentivados pela professora que os ajudou na tradução e interpretação, além de brincar com eles sobre algumas das histórias, correlacionando-as ao seu dia-a-dia. Os alunos ficaram sabendo do site por alguns alunos que participavam de um outro projeto na escola: "Quadrinhos – Aprender e Ensinar Brincando". (Confesso que foi uma agradável surpresa para mim quando descobrimos o que eles estavam fazendo.)
Acredito que os alunos tiveram uma boa recepção da estratégia utilizada pela professora, já que eles usaram os diversos recursos para adquirir mais intimidade com a língua espanhola, além de interagir com as interfaces da internet usadas para a aplicação da aprendizagem na aula. Ficou caracterizado o bom uso de ferramentas assíncronas (jornal e jogos) e síncronas (Chat).
A interação dos alunos, o resultado final após a aula, a forma como foi abordada a língua espanhola e os diversos aspectos relacionados à minha observação me levam a crer que as tecnologias disponíveis foram bem utilizadas pela professora com recursos positivos e estimulantes para os alunos.
Eles não só participaram da aula, como foram sujeitos de seu próprio aprendizado. E isso tudo enquanto se divertiam.
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Perfil do Autor

Bacharel em Administração de Empresas e Técnica em Segurança do Trabalho, Secretária Escolar, Professora do curso de Gestão/Serviços Públicos em Educação Online (EAD) do IFET/CTU (Ações Públicas, Gestão Social, Patrimônio Público, Noções de Direito Administrativo, Protocolo e Cerimonial, Sustentabilidade e Urbanismo, Licitação, Contratos e Convênios, Informática Aplicada) e antes Tutora à Distância (EAD IFET/CTU - Três Pontas).
Fiz alguns cursos na área de informática, extensão e aperfeiçoamento (UFMT, UFRJ, PJF etc).
Pós-graduanda em TIC´s pela UFJF.
Sou apaixonada com Educação Online.
Casada, três filhos, e nas horas vagas (quase inexistentes) "finjo" ser escritora de fic´s.

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